Sistema heteroafetivo é aquele onde pessoas se relacionam afetivamente apenas quando as genitálias diferem, ou se completam. O critério de normalidade de afetos é esse. Aliás, qual a razão para procurar uma normalidade?
Sistema cisgênero é o que determina apenas dois gêneros determinados pela genitália. Pênis implica em macho, homem. Vagina em fêmea, mulher. É anormal o masculino ter vagina, ou o feminino ter pênis.
As pessoas vindas da Europa encontraram, de norte a sul das Américas, sociedades onde gênero e afetividade não seguiam os padrões conhecidos por elas. Ou, melhor colocado, os padrões estabelecidos de normalidade. A normalidade aqui era outra.
Na América do Norte havia as pessoas de dois espíritos. Aquelas culturas compreendia gênero como possibilidades, e não como fatos ditados pela anatomia. Dito de outra forma, se estava feminino ou masculino, podendo fluir constantemente entre um e outro. Na linguagem atual, pessoas transvestegêneres de gênero fluido. Há 500 anos sociedades isoladas das europeias aceitavam com naturalidade pessoas trans. E que desempenhavam relevante papel na espiritualidade e na política do grupo.
Na América Central, Vasco Nunes Balboa encontra uma cidade onde o irmão do cacique e 40 amigos são compreendidos por ele como “sodomitas”, ou por estarem vestidos como mulheres. Ele os mata, lançando-os aos cães. Cena retratada por Pietro D’Anguiera em “De Orbe Novo”.
Nas missões dos jesuítas na América do Sul havia “pessoas com modos de homem e mulher”. Aqueles religiosos os denominaram afeminados e machorras. Estas, mulheres com cabelos cortados à moda masculina, vivendo com suas esposas e indo para a guerra com arcos e lanças.
Como já foi dito, a Europa trouxe para as Américas a homofobia e a transfobia. As expressões de afeto e identidades de gêneros encaradas como desviantes eram punidas de forma severa. Apenas a punição por assassinato era mais dura.
